sábado, 2 de junho de 2012

MORTE POR ABORTO NA BAHIA: ESSE DRAMA TEM CLASSE


Por Ana paula Medeiros e Monique Carneiro

Todos os anos, milhares de mulheres morrem devido a complicações por abortos malfeitos. A clandestinidade, resultante da criminalização, submete as mulheres a métodos inseguros para interromper a gravidez. Apesar da proibição legal, o aborto é amplamente praticado. Ao completar 40 anos, pelo menos uma em cada cinco brasileiras residentes em zona urbana e alfabetizadas já abortou. Em Salvador, a cada 4 internações por parto ocorre 1 internação para curetagem. O aborto é a principal causa de morte materna, responsável por 38 de cada 100 óbitos.

Pesquisa da Universidade de Brasília apontou que a maioria das mulheres que abortam é jovem, pouco escolarizada, havia engravidado do marido ou companheiro e possuía filhos. Apesar de praticado por mulheres de todas as classes sociais, o aborto tem consequências desiguais: as pobres têm mais riscos de morrer do que aquelas com condições para pagar um aborto em clínicas clandestinas que oferecem maior higiene e segurança. Estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro mostrou que mulheres nordestinas estão mais expostas aos abortos arriscados, e as negras têm três vezes mais chances de morrer por aborto do que mulheres brancas. Fica claro que a ilegalidade mostra sua face mais cruel para as mulheres da classe trabalhadora.

Países com as menores taxas de aborto são aqueles nos quais ele é legal e de fácil acesso, sendo realizado gratuitamente nos hospitais públicos. Na Holanda e na Alemanha, por exemplo, em cada grupo de mil mulheres, apenas seis abortam anualmente – o que foi fruto das lutas das mulheres, que exigiram a valorização da informação, da educação sexual, do planejamento reprodutivo e do oferecimento de contraceptivos.

Entre 1996 e 2009, 47 novos países aprovaram leis que caminham para a legalização do aborto. Entretanto, no Brasil, é cada vez mais gritante a influência de setores conservadores, levando ao retrocesso das conquistas e a perda de direitos das mulheres. O PT, partido da presidente Dilma, era a favor da legalização do aborto e retrocedeu nesse ponto para ganhar apoio da Igreja e dos religiosos nas eleições, abandonando uma de suas mais antigas e importantes bandeiras feministas.

Chega de religiosidade no trato com a vida das mulheres. “Dilma e PT, o aborto é questão de saúde pública e dignidade!” Devemos lutar pela ampliação dos direitos das mulheres e pela melhoraria da qualidade do atendimento às que abortam. O aborto deve ser garantido gratuitamente nos hospitais públicos, assim como o atendimento livre de discriminação ou preconceito, evitando assim sequelas graves e a morte desnecessária de milhares de mulheres. Elas devem ter direito de decidir sobre seu corpo de forma consciente e autônoma. Se decidir ter o filho, que tenha acesso às condições básicas para ser mãe. Se decidir abortar, que tenha acesso a um hospital público, com a assistência adequada. Hoje, esse direito básico é negado à mulher trabalhadora e pobre.

Que o aborto seja realizado pelos serviços públicos, com assistência adequada!

Educação sexual para prevenir. Contraceptivo para não engravidar. Aborto seguro e legal para não morrer: pelo direito à mulher de decidir sobre o seu corpo!

Descriminalização do aborto já!

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