segunda-feira, 30 de julho de 2012

Candidata a vice-prefeita, Nise Santos diz que concurso deve ter cotas raciais

Nise Santos (PSTU), candidata a vide-prefeita de Hamilton Assis (PSOL)



 Biaggio Talento e Carol Aquino
 

A enfermeira Nise Santos começou a militância política no movimento estudantil, que a fez ter contato com os movimentos sociais, o movimento sindical e as correntes partidárias. Disputa, este ano, a primeira eleição defendendo políticas de reparação no serviço público municipal.
Esta é a primeira eleição de que a senhora participa. Como surgiu sua candidatura a vice na chapa de Hamilton?
O convite foi feito ao nosso partido (PSTU). Nós achávamos que, diante da disputa que vai haver entre as duas maiores candidaturas majoritárias, a do PT e a da direita tradicional (ACM Neto), era importante juntarmos todos os partidos de esquerda para ocupar um espaço à esquerda desses dois projetos. Meu nome foi uma escolha coletiva por eu representar o PSTU nos movimentos social e  sindical.
Na convenção do PSOL, o candidato Hamilton Assis brincou dizendo que não lhe conhecia. Vocês foram apresentados naquele dia?
Já nos conhecíamos, sim. Não tínhamos uma aproximação pessoal. Cada um sabia quem era o outro, mesmo porque nossos partidos estão juntos nas lutas cotidianas.
E a questão da discussão sobre a negritude nas vices da chapa de prefeito. Como a senhora está observando?
Acho que a direita tradicional e o PT, os aliados do governo federal, perceberam que em Salvador é impossível fazer qualquer tipo de debate sobre eleições que não perpasse pela questão racial. É um debate para nós muito caro. Existe polêmica com relação a cotas raciais na educação e mercado de trabalho, o estatuto da igualdade racial, sobre a diminuição das iniquidades de saúde sobretudo com políticas específicas para as mulheres negras. Enfim, isso ganhou corpo na sociedade. Nesse sentido, a direita tradicional, que negou isso tendo dirigido a cidade por mais de oito anos e o Estado por 16 anos, surfa com o PT nesse  debate que está posto e colocam nas suas vices negros para se tornarem os “herdeiros” da luta negra, da luta antirracista, coisa que não são.

Suas críticas são dirigidas também para a vice da chapa do PT, a vereadora Olívia Santana, que é reconhecida como uma militante histórica do Movimento Negro?
 Reconheço Olívia, não só integrante da história do Movimento Negro, também como alguém de uma classe social diferente do próprio candidato a prefeito da chapa dela e dos outros que estão colocados. Isso não há como negar. Agora o programa que Olívia representa nestas eleições é que, na nossa opinião, é um problema. O programa dela está sendo financiado, hoje, pelo empresariado desta cidade. A candidatura dela é milionária. Temos batido nesse tema do financiamento das candidaturas: quem paga a banda é quem escolhe a música. Os financiamentos de campanha produzem alianças
para os próximos governos. Portanto, o programa que Olívia representa não é fundamentado nas reivindicações do povo negro dos pretos e das pretas desta cidade, é do empresariado, que segue privatizando Salvador.

Mas a senhora já tinha uma militância no Movimento Negro. Essas causas fazem parte do programa do PSTU?
Com certeza. O que estou defendendo aqui é justamente o que prevê o nosso programa. Uma parte mostramos por que os programas das outras candidaturas não defendem as reivindicações do povo negro e outra mostramos que temos saídas. Minha militância começou no movimento estudantil e num momento importante da universidade na Bahia, quando estávamos discutindo o tema das cotas raciais. Meu primeiro ativismo foi dentro da Universidade do Estado da Bahia. Hoje, construo, o movimento “Quilombo Raça e Classe”.

No programa do PSOL/PSTU há políticas de reparação de um eventual governo da chapa como cotas raciais para servidores e exigências que as empresas contratadas pela prefeitura também tenham políticas reparadoras. Não acha temas muito polêmicos para serem implantados?
Todos os temas ligados à reparação racial trouxeram polêmicas para a sociedade brasileira. Em Salvador, é mais polêmico ainda, por ser uma cidade onde existe o “selo” do que chamamos “democracia racial”, como se não houvesse mais racismo e as condições entre negros e brancos, pós Constituição de 1988, tivessem sido igualadas. Mas isso é uma grande mentira e as estatísticas mostram o contrário. Para se ter ideia, a média salarial do negro é três vezes menor que a do branco; 80% da população de negros e mestiços vive nas periferias de Salvador. Enfim, são vários índices sociais que desmentem a “democracia racial”. Por isso achamos que os concursos públicos da prefeitura precisam ter cotas raciais.

Como enfrentar as  candidaturas que têm muitos recursos?
Não aceitamos financiamento do empresariado, pois eles geram, produzem compromissos para a próxima gestão da prefeitura. Os trabalhadores e os movimentos sociais financiam nossa candidatura. Queremos que esses cobrem a fatura da gestão.
No Rio, Caetano Veloso vai fazer um show para o candidato do PSOL a prefeito. Vocês não pretendem pedir o mesmo para Salvador?
Caetano está convidadíssimo, se apoiar o nosso programa, a fazer um show para ajudar a financiar nossa candidatura.




fonte: http://atarde.uol.com.br/noticia.jsf?id=5858543 

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