quinta-feira, 9 de abril de 2015

Algumas lições da heróica greve dos professores de Camaçari (BA)


Carlos Nascimento.

Foram duas semanas de greve, sem contar os dois dias de paralisações antes da decretação do movimento por tempo indeterminado. Na pauta, a cobrança dos acordos de dois anos passados, não cumpridos pela Prefeitura do PT, além da luta pelo piso salarial e o reajuste de 2015.



Uma greve muito forte, que envolveu a categoria, realizando várias manifestações de rua, assembleias muito representativas e que fez desabrochar muitas (os) ativistas que tiveram a frente da organização do movimento, inclusive alguns companheiras (os) compondo uma comissão de base de mobilização eleita pela assembleia.

Os professores, infelizmente, tiveram que enfrentar além da dureza da Prefeitura do PT, os vacilos da diretoria cutista e petista do SISPEC, que não atuou no sentido de fortalecer a greve e extendê-la, e tentou por pelo menos 4 vezes terminar com o movimento, quando ainda não havia nenhuma conquista. 

Salvo raras exceções, a maioria dos diretores atuaram mais como representantes do governo do que da categoria, em especial o atual presidente do sindicato, que inclusive atuou de forma irresponsável nas negociações com o governo, negligenciando a defesa da pauta definida em assembleia, em especial sobre o índice de reajuste reivindicado pelos professores.

Ao final, na assembleia de 18 de março, depois da quinta tentativa, e se utilizando de métodos absurdos, com agressões verbais e até físicas para esvaziar a assembleia, e se apoiando em uma diferença muito apertada de votos foi terminada a  greve.

Apesar destas atitudes absurdas, em primeiro lugar da Prefeitura petista de Camaçari, mas também da direção do SISPEC, aliada do PT e da própria Prefeitura, a categoria obteve várias vitórias parciais, que são importantes, e  um patrimônio de nosso movimento vitorioso.

Era possível arrancar mais? Em nossa opinião sim, foi um erro acabar com a greve no dia 18.3. Por exemplo, essa semana muitas entidades nacionais de defesa da educação pública  realizaram um dia nacional de lutas no dia 26.3, e teríamos ainda mais foça e visibilidade em nosso movimento em Camaçari. Enfim, podíamos sair com os 13,01% garantidos, mas vamos seguir cobrando a sua efetivação, , da direção vacilante do SISPEC visto que o mesmo garantiu os 2,15 tirados na mesa de negociação.

Mas, apesar de todos os obstáculos, a categoria saiu do movimento de cabeça erguida, com sentimento de vitória, mesmo que parcial. Conquistamos já os 10,61% de reajuste, garantido pelo menos o valor da lei do piso e finalmente resolvemos as pendências do enquadramento e do projeto de incentivo  a qualificação.

Essas vitórias foram fruto da força do nosso movimento, que arrancou essas conquistas da Prefeitura, que no início da greve relutava em atender nossas reivindicações. E também foram conquistas à revelia da direção do SISPEC, que antes de termos garantidos essas pautas tentou por várias vezes acabar com a nossa greve, fazendo o oposto do que se espera de uma direção sindical, que é representar os interesses da categoria.

Mas, para além de conquistas econômicas e de valorização profissional, precisamos tirar lições políticas e de organização de nosso movimento. Neste breve texto, queremos discutir com a categoria e em especial com as (os) guerreiras (os) que tiveram a frente do nosso movimento, quais, em nossa opinião, são essas principais lições:

A GREVE SEGUE SENDO A NOSSA PRINCIPAL ARMA

Alguns companheiros (as) andavam se perguntando se realmente valia a pena fazermos greve. Especialmente devido aos descumprimentos dos acordos dos últimos anos e dos permanentes vacilos da direção do sindicato, se tinha algum efeito realmente deflagrar uma greve  no sentido de obtermos vitórias concretas.

 Sem dúvida, o que aconteceu nas últimas duas semanas demonstrou de forma inequívoca que a greve é ainda a principal arma do trabalhador. Em, nosso caso é um caminho difícil e tortuoso, mas que não podemos deixar de trilhar, se realmente queremos lutar pela valorização da educação pública e pela defesa de nossos direitos enquanto educadores.

 A força do nosso movimento demonstrou para todos nós que unidos podemos vencer a postura anti-educação da prefeitura do PT e também as vacilações da direção da entidade. Esses dois obstáculos juntos não conseguiram parar nosso movimento, impediram sim que tivéssemos uma conquista maior, mas não conseguiu nos derrotar.

 Viva a greve dos professores de Camaçari. Parabéns a nossa categoria. Com certeza, saímos mais fortalecidos, para caso seja necessário, voltarmos a fazer novos movimentos.

A IMPORTÂNCIA DA COMISSÃO DE BASE DE MOBILIZAÇÃO

Outra lição muito importante foi à criação da Comissão de Base de Mobilização, eleita em assembleia da categoria. Em nossa opinião, todas as greves deveriam eleger comandos de greves de

base e / ou comissões permanentes de mobilização, para que junto com a direção dos sindicatos ajudem a dirigir nossos movimentos, sempre se apoiando nas decisões soberanas de nossas assembleias.

No caso específico de nossa greve, caso não houvesse essa Comissão de Base e de Mobilização, a direção vacilante do SISPEC teria tido mais facilidade em acabar com o nosso movimento. A presença da Comissão nas assembleias, de forma organizada, acabou por impedir que essa traição fosse feita em pelo menos quatro situações.

Foi também a presença de membros da Comissão nas negociações com a Secretaria de Educação e com os representantes da Prefeitura que garantiu que a nossa pauta fosse realmente defendida na mesa, pois se fosse pela vontade do presidente do sindicato já teríamos aberto mão dos 13,01% e de outros direitos nossos.

Fica a lição, daqui pra frente, em todas as nossas greves, lutemos para eleger esses comandos de greves e de mobilização, para melhor nos organizarmos e para tentar impedir os vacilos da direção cutista do SISPEC.

VAMOS ORGANIZAR UMA OPOSIÇÃO A ATUAL DIRETORIA DO SISPEC

A postura absurda da esmagadora maioria dos diretores do SISPEC, nos demonstrou que a outra lição que temos que tirar do nosso movimento é que precisamos organizar uma oposição democrática e permanente a atual diretoria do nosso sindicato.

 A atual direção do sindicato foi eleita de forma anti-democrática, em uma eleição sem oposição, pois eles esconderam o edital que convocou a eleição. Muito provavelmente senão fosse este golpe, teriam perdido as eleições para a entidade.

 E, pior, ainda aumentaram seu mandato para quatro anos. Ou seja, ainda temos pela frente mais de três anos dessa diretoria, que na verdade já deu demonstração que já passou da validade, e sua atitude na nossa greve só prova isso.

 Somos contra a qualquer movimento de divisão do nosso sindicato e / ou de desfiliações em massa da entidade. Queremos mudar a diretoria vacilante do sindicato, mas para isso queremos um sindicato cada vez mais forte e representativo.

Por isso, não temos escolha, antes da próxima eleição para a entidade, ainda teremos três campanhas salariais, e não podemos ficar a mercê dos vacilos da atual diretoria do nosso sindicato. Portanto, mais do que nunca precisamos de uma oposição organizada de forma permanente, com reuniões abertas a categoria e que siga defendendo nossos interesses.

 Nossa proposta é que os ativistas que estiveram à frente do Comando de Base e de Mobilização chamem uma ampla reunião de conformação desta oposição à diretoria cutista do SISPEC. Nossa oposição terá como objetivo em primeiro lugar de defender os interesses da categoria e também de fortalecer nosso sindicato.

 Estaremos totalmente dedicados à organização dessa oposição, mas como diz o ditado “uma andorinha sozinha não faz verão”, precisamos da unidade dos ativistas da categoria, que fez a diferença na nossa greve, agora organizados de forma permanente em nossa oposição democrática e de luta. Faço esse convite aos meus colegas. Nos encontraremos, sempre, nas salas de aulas e em nossas lutas em defesa da educação pública e em defesa de nossos direitos.   

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