sábado, 12 de setembro de 2015

PPL diz SIM a ACM Neto, prefeito de Salvador pelo DEM

Filiação de Vice-prefeita é uma adesão a gestão que vem privatizando a capital baiana

Por Jean Montezuma, da Direção estadual do PSTU

No último mês de agosto o PPL anunciou o ingresso nas suas fileiras de Célia Sacramento, vice-prefeita de Salvador, que estava sem partido desde sua saída do PV. Dias depois a filiação de Célia foi celebrada numa reunião com Marcelo Barreto, da direção do Partido Pátria Livre na Bahia, e o prefeito ACM Neto (DEM), que na ocasião deu a sua “benção” a migração de Célia para o PPL abrindo as portas de sua administração para este partido.

Esse episódio, que poderia passar desapercebido como mais um exemplo do troca-troca de legendas comum na política brasileira, torna-se uma excelente oportunidade para explicitarmos um pouco das nossas diferenças com o PPL partindo de um exemplo concreto. Isso se faz necessário porque, especialmente em política, mover-se apenas pelas aparências é um grave erro.

O fato do PPL se projetar como oposição ao governo Dilma, as medidas do ajuste fiscal e de também negar Aécio Neves como uma saída para crise, não nos torna iguais e muito menos anula as diferenças que existem entre este partido e nós do PSTU, que reivindicamos uma saída classista que supere a polarização governo versus oposição de direita e coloque em seu lugar uma alternativa de poder dos trabalhadores.

A filiação de Célia Sacramento e o ingresso do PPL no governo ACM Neto é um grave erro
ACM Neto é herdeiro de uma tradição política que sempre se pautou pelo atendimento aos interesses dos ricos e poderosos em detrimento das condições de vida da maioria do povo. A sua administração vem se desenvolvendo seguindo um direcionamento muito bem definido, a saber, a privatização da cidade de modo que Salvador possa melhor atender aos interesses do mesmo punhado de privilegiados de sempre.

Frente aos principais problemas da cidade as saídas de ACM Neto passam longe sequer de promover uma diminuição da profunda desigualdade que recorta nossa capital. No tema da mobilidade urbana ACM Neto não só manteve a máfia do SETPS, como renovou essa usurpação de nosso direito ao transporte por mais 25 anos! Os anos de serviços mal prestados a população, arrocho salarial e péssimas condições de trabalho para os rodoviários, foram presenteados por ACM Neto com um novo contrato de concessão, que ainda por cima garante ao SETPS o direito de aumentar anualmente a tarifa do transporte.

No primeiro semestre, quando as chuvas trouxeram à tona o drama das encostas, ACM Neto se omitiu de qualquer responsabilidade e, não satisfeito, usou as chuvas como desculpa por pôr em movimento seu plano de derrubar casarões antigos do centro expulsando seus moradores, negros e trabalhadores, para dar lugar a especulação imobiliária. Perguntamos ao PPL, onde estava a vice-prefeita Célia Sacramento nesse momento? Onde estava a vice-prefeita Célia quando ACM Neto investiu milhões na reforma da orla da Barra ao mesmo tempo que alegava não ter dinheiro para construir creches e demais intervenções na periferia de Salvador? Qual a opinião da vice-prefeita Célia sobre o novo “paisagismo” que a prefeitura esta promovendo nos viadutos próximos aos “roteiros turísticos” da cidade, onde cactos estão sendo colocados para evitar que moradores de rua ali se instalem?

Diante dessas e inúmeras outras questões acerca da gestão de ACM Neto, teríamos como resposta de Célia Sacramento apenas o consentimento agregado de alguma justificativa para tentar camuflar o óbivio: a prefeitura de ACM Neto, e também dela, se pauta de um lado, pela privatização da cidade, do outro, por uma faxina ética voltada contra os negros e negras e o povo pobre de nossa cidade. Então perguntamos ao PPL, qual sentido de acolher nas suas fileiras uma representante desse governo? De que vale entrar de malas e bagagens na prefeitura de ACM Neto, ilustre representante na Bahia dos interesses que a direita brasileira defende no Congresso nacional?

Qualquer aliança é válida?
Há muito tempo se tornou prática comum na política brasileira a formação de alianças baseadas no fisiologismo e na conciliação de interesses para ocupar cargos públicos. Nas eleições essa prática se exacerba ao ponto de termos exemplos como a disputa pelo Senado do ano passado, onde Otto Alencar (PSD), outrora projetado na política pelo carlismo, foi o candidato da chapa petista e teve como principal adversário Geddel Vieira Lima (PMDB) que já foi do campo carlista, depois rompeu e aliou-se a Jacques Wagner, para em seguida romper novamente e regressar ao campo de apoio a ACM Neto e Paulo Souto. Em 2012 causou espanto em muitos militantes o pacto celebrado entre Lula e Maluf para turbinar a candidatura de Fernado Hadad a prefeitura de São Paulo. Inúmeros são os exemplos desse tipo de prática onde inimigos “inconciliáveis” do passado tornam-se íntimos aliados hoje, para em seguida amanhã se divorciarem novamente.

Nós do PSTU sempre denunciamos esse vale tudo. Para nós a prática política, inclusive as alianças, devem ser feitas em base a um programa. O programa nada mais é que uma compreensão comum sobre a realidade e as tarefas. Mais ainda, nós, que reivindicamos a tradição da esquerda socialista, temos princípios que nos impendem, por exemplo, romper as fronteiras de classe. ACM Neto junto com o DEM, o PSDB, o PMDB, e os demais partidos da direita brasileira são a encarnação do projeto político da burguesia. Um projeto de sociedade que tem o objetivo de garantir a manutenção dos seus privilégios ás custas da perpetuação das profundas desigualdades sociais, da exploração e da opressão da classe trabalhadora que é a imensa maioria do povo.

Qualquer pacto, aliança, ou tática que represente uma aproximação com ACM Neto é uma ruptura com a perspectiva de intervir na política para mudar os rumos da própria política. Recentemente o PPL, assim como nós do PSTU e também o PCB e PCO sofremos um duro ataque com a reforma política aprovada no Congresso. Ataque que em seguida foi estendido ao PSOL com a restrição de sua participação nos debates de TV e rádio.

Os grandes partidos fizeram uma aliança para mudar as regras da eleições em benefício próprio. Desse modo pretendem evitar que outros sujeitos políticos se postulem como alternativa e dessa forma ameacem sua hegemonia na política brasileira. A ocasião desse duro ataque nos aproximou do PPL através de uma ação conjunta, tática, para tentar barrar essa verdadeira contrarreforma que traz sérias restrições aos já frágeis direitos democráticos.

Ao aceitar o ingresso nas suas fileiras da vice-prefeita de Salvador, e dessa forma ingressar na administração de ACM Neto, o PPL impôs a si próprio a contradição de aliar-se ao seu algoz. O DEM é um dos mais entusiastas defensores dessa reforma política que na prática lançará a nós, o PCB, PCO e o próprio PPL numa espécie de semilegalidade. Tamanha contradição só expõe os limites desse partido e de qualquer outra organização que se move na luta política sem uma sólida definição estratégica.

Quem se move apenas pela conjuntura, ao sabor dos ventos de hoje e sem passar o amanhã está fadado a cometer erros. Nós marxistas damos grande valor a relação entre as táticas e a estratégia, e entre ambas e os princípios. Evidentemente que as frequentes mudanças de conjuntura e toda riqueza de elementos que dão forma a luta de classes nos exigem flexibilidade tática. Porém não temos o direito de lançar mão de táticas que sejam divorciadas dos princípios que nos colocam na trincheira oposta dos nossos inimigos de classe.

Questionamos o PPL sobre qual saída esse partido oferece para mudar o quadro atual e colocar a política brasileira num caminho diferente que traga verdadeiras mudanças? Como é possível mudar, combater a corrupção, medidas como a reforma política, o ajuste fiscal, a precarização dos serviços públicos e uma longa lista de injustiças, aliando-se aos mesmos partidos e lideranças que representam quem sempre se beneficiou com tudo isso?

Humildemente nós do PSTU reconhecemos que não temos todas as respostas. No entanto, seguimos acreditando que trilhar o caminho da independência de classe, da mais intransigente negação de qualquer aliança com os representantes da minoria privilegiada, é o meio pelo qual poderemos junto a classe trabalhadora encontrar a saída para mudar as coisas.

Ansiosos pela resposta, passamos a palavra a direção do PPL.

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